De corrida e como quem está na conversa ao café com um copo de tinto


Olá, malta pendurada.

Vi com muito agrado que o dia 04/01 não passou despercebido a cada um de nós.

Na verdade, esse dia marca o início de um "amor" entre cerca de 60 "debutantes" na sociedade aeronáutica que se irá prolongar por mais de 48 anos e, quem sabe, para além da eternidade.

Esse dia de 1974 leva-me sempre a lembrar aqueles 15 dias de testes para aptidão a piloto da força aérea a que todos fomos sujeitos, autêntica câmara de tortura, dado o método como foram realizados.

Para os deslocados de Lisboa (o meu caso) e depois de um final de dia angustiante porque era nessa altura que se chamavam os que iam ser enviados para casa. A chamada a ser feita ainda com testes por fazer caía como uma machadada nos sonhos entretanto acalentados, mas também algumas vezes acontecia esses mesmos sonhos serem cortados precisamente na última avaliação de um coronel que nos negava que o sorriso permanecesse no nosso rosto.

Piada das piadas, era precisamente esse coronel que na mesma avaliação final, e na outra face da moeda, nos dava as boas-vindas e nos escancarava as portas do céu que todos almejávamos.

Montanha russa de emoções em que o final do dia nos presenteava num ritual penoso e massacrante assim acontecendo num dia a seguir ao outro.

Como dizia atrás, para quem era de fora de Lisboa e terminado o dia, éramos levados para pernoita na BA1 num misto de alívio e satisfação por mais um dia de testes positivos (em princípio).

Davam-nos o jantar em ambiente militar e dormida em camarata de soldados.

Tenho a ideia de que essa camarata era destinada a estadias curtas na Base (não nos devemos esquecer que estávamos em guerra colonial e havia necessidade de dar apoio logístico às tropas em trânsito) e por isso alvo fácil para alguns de nós serem já praxados pelos alunos pilotos do curso (P3/73?) que estariam naquela altura na base. Eu, em concreto, tive a sorte de ficar a dormir ao lado de um sargento que, perante a tentativa de me praxarem, os  correu argumentando que eu era ainda civil e ele não tinha paciência para aturar aquela palhaçada.

No dia seguinte, regresso ao Lumiar para outra bateria de exames. Como se diz nos carroceis das festas: “é entrar! nova corrida, nova viagem”.

Lembro-me de partilhar esses 15 dias de testes até uma semana antes do Natal de 73 com o Luis Tito e o António Carneiro e ainda com outros que posteriormente não conseguiram aceder ao curso.

Na tarde do dia 04/01/74, já em Lisboa e de regresso ao Porto, lembro-me que o comboio só sairia por volta das 20h e fui assistir ao filme o "Dragão Ataca", com Bruce Lee. Lembro-me também que me acompanharam nessa sessão de cinema, o Artur Pinto, o Borges e penso que também - sem total certeza - o Semedo e o “Alentejano de um Cabron" como nós o apelidávamos na brincadeira e que agora não me vem o nome à ideia.

Desculpem-me todo este relambório de escrita, mas deve ser a saudade de vos poder dar um longo e pendurado abraço.

#Penduras
[0.001/2022]

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