A aventura ( VII )

(...)

Finalmente chegou o grande dia.
(Este afinal significa só um mês, mas a impaciência da juventude tem destas coisas)

No dia 6 de Março de 1974, uma quarta-feira, (relatarei o meu caso, mas todos os outros que não foram nesse dia aconteceram no dia anterior, ou nos dias seguintes) recitaram-se os procedimentos na sala de briefing com a mesma ênfase com que se recitava o Pai-Nosso na catequese, ao que se seguiu o acompanhar do preenchimento do plano de voo e o levantamento do livro do avião.

Na sala ao lado seleccionaram-se os auscultadores e ajustaram-se as correias do pára-quedas que haviam de servir de almofada nos bancos do cockpit do Chipmunk.

Acompanhando o instrutor (Fur. Albertino Monteiro), atravessámos a ponte que separava o taxiway dos pavilhões de instrução e seguimos para o Chip destinado que se encontrava alinhado entre os seus parceiros por ordem de matrícula (neste caso o 1353).

O mecânico já nos aguardava com o extintor a postos e pronto para remover os calços.

Passada a revista ao exterior ao avião, subimos a asa e encaixámos-nos nos nossos lugares para, de seguida, ligar os auscultadores e apertar o cinto.

Procedimentos de pôr em marcha executados (não me recordo se foi necessário o bate-bate), ao sinal de OK feito pelo mecânico a indicar que os calços estavam removidos e tudo estava em ordem, aguardou-se a autorização para rolar no taxiway até alinhar na pista. A concentração para que nada falhasse e a satisfação de estar a fazer aquilo, eram insuperáveis.

Contacto com a torre de controlo e a esperada autorização recebida, à indicação do instrutor “o avião é meu”, seguiu-se o rolar aos ziguezagues até ao topo da pista para, depois da autorização da torre, proceder à decolagem.

Rodas no ar, procedimentos de decolagem e nivelamento executados, iniciou-se a passeata até à zona de trabalho onde se sucederam as passaradas feitas pelo instrutor para demonstrar as capacidades de manobra do avião de lona e aço e sentir os primeiros G’s que retiravam a virgindade da pilotagem. Estava entendido o que fazia o mancho e para que serviam os pedais.

Cinquenta minutos depois (conforme consta no Boletim de voo) fazíamo-nos à final, após os procedimentos de volta de pista, para sentir a comoção de uma primeira aterragem no banco da frente.

Se por mais não fosse, já tinha valido a pena ter entrado nesta aventura. Estava praticamente concretizado um sonho de infância e só faltava chegar o dia de poder voar sem ter o instrutor no banco de trás para o realizar plenamente.

(a continuar)
Luís Novaes Tito
#Penduras
[0.011/2017]

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