A aventura ( X e último)
(...)
Na manhã do dia 17 de Junho de 1974, uma Segunda-feira, atravessámos (o instrutor Monteiro e eu) a ponte que separava os pavilhões da linha da frente em direcção ao 1354. Nesse dia não assisti ao elaborar do plano de vôo ficando só a saber que iriamos fazer voltas de pista, treinar um borreganço e proceder a diversos toque-e-anda.
Procedimentos habituais, rodas no ar, cinco voltas de pista com um borrego e três toque-e-anda, para na quarta aproximação o instrutor reportar à torre a aterragem final e comunicar-me pelo intercomunicador que deveria seguir para a placa. O rolar entre a pista e a placa foi feito em silêncio, sem as habituais dicas do que havia a ser aperfeiçoado.
Ao entrar na placa, o inst. Monteiro disse-me pelos auscultadores:
“Sabe, sr. Tito, estou farto de o aturar!” seguiu-se novo silêncio para depois, quando me preparava para estacionar o avião, voltar a ouvir a sua voz:
“Pare aqui, retire o gás e deixe-me sair do avião” – Fez novo reporte à torre, de seguida comunicou-me que queria mais três toque-e-anda, abriu a canopy e antes de se desligar resmungou:
“Vá-se matar sozinho! Não se esqueça de manter o trem em baixo” (uma praxe porque os chip tinham o trem fixo)
Assim fiz. Quando rolei para a pista vi o instrutor já do outro lado da ponte a fazer o sinal de OK com o polegar.
Três aterragens depois, já com o 1354 estacionado e calçado dirigi-me à ponte onde o Monteiro me aguardava de sorriso rasgado e vi perfilar alguns instrutores a aquecerem as mãos. (a eles tinha-se juntado o meu irmão Zé – regressado da guerra em Moçambique (Alouette III) a finalizar o tempo de serviço na FAP como piloto do Beechcraft da Base.
Todos quiserem molhar a sopa. Seguiram-se os “cachaços” e o “pontapé-no-cu” da praxe.
Este relato foi feito na primeira pessoa do singular porque cada instrutor tinha a forma própria de largar os seus alunos. Não há-de ser muito diferente do que se passou naquele próprio dia e nos dias anteriores e posteriores com todos os outros alunos e cadetes.
Até ao fim dessa semana seguiram-se três vôos. Um para voltas de pista com o instrutor, outro para voltas de pista sozinho e, no dia 21, o voo de despedida do Chipmunk em zona de trabalho com o instrutor a bordo.
Na semana seguinte o comando de esquadra reuniu os largados na sala de aulas, comunicou que não haveria curso de T37 e que tinham sido escolhidos os 21 que seguiriam para São Jacinto (BA7) - avião T6 - e que os restantes 33 iriam para Tancos (BA3), fazer o helicóptero Alouette III. A notícia da escolha criou algum burburinho e, então, os comandantes Oliveira e Portijo (já reinava o espírito democrático?) decidiram meter num saco 21 papéis que diziam Aveiro e 33 que diziam Tancos. Cada um sacou o seu papel e ficou decidido. (tenho ideia que posteriormente ainda foram permitidas algumas trocas).
Termino aqui o relato porque daí em diante as coisas passaram a ser diversas. Cada um terá as suas histórias para contar e não foram poucas as que se sucederem ao longo do restante curso, incluindo as que se passaram nos históricos dias 28 de Setembro de 1974, 11 de Março de 1975 e 25 de Novembro desse mesmo ano.
Os que seguiram para São Jacinto formaram o curso P1/74 – Fixes. Os que foram para Tancos formaram o curso PH1/74 – Dragões. Mais tarde foram seleccionados 3 dos Fixes e 4 dos Dragões para integrarem o curso P2/74 de T37 – Os Panchos, que entretanto se estava a formar. Um Pendura dos Dragões seguiu para a Academia.
Durante o curso morreu aos comandos de um T6, no dia 4.10.74 pelas 17:00 horas, o nosso camarada António Marques (Viseu).
Foram brevetados em T6, sete Penduras, um dos quais no curso seguinte (P2/74). Foram brevetados em Alouette III, vinte Penduras, a que se juntou um camarada do curso anterior (P3/73). Foram brevetados em T37, sete Penduras, um deles pela Academia.
Este site/blog, sucessor do Website dos Penduras que por questões técnicas teve de ser desactivado, é património de todos aqueles que foram incorporados no curso P1/74, a que se acrescentam os instrutores de voo em Chipmunk e o da recruta.
Resulta do que ficou acordado no primeiro jantar alargado do curso, realizado na Mealhada em 27.07.2001, que serviu de base para o trabalho hercúleo seguido pelo Mário Frazão de recolher e tratar a informação para levantamento de todos os contactos que iriam tornar possível o encontro dos Trinta Anos da incorporação realizado no dia 31.01.2004 na BA1, Granja do Marquês – Sintra e, mais tarde em 10.05.2014, no mesmo local para Comemoração dos 40 anos.
A sua actualização e melhoria dependem única e exclusivamente de todos os que nele têm página própria e das famílias daqueles que entretanto faleceram.
(último desta série)
Luís Novaes Tito
#Penduras
[0.014/2017]
Na manhã do dia 17 de Junho de 1974, uma Segunda-feira, atravessámos (o instrutor Monteiro e eu) a ponte que separava os pavilhões da linha da frente em direcção ao 1354. Nesse dia não assisti ao elaborar do plano de vôo ficando só a saber que iriamos fazer voltas de pista, treinar um borreganço e proceder a diversos toque-e-anda.
Procedimentos habituais, rodas no ar, cinco voltas de pista com um borrego e três toque-e-anda, para na quarta aproximação o instrutor reportar à torre a aterragem final e comunicar-me pelo intercomunicador que deveria seguir para a placa. O rolar entre a pista e a placa foi feito em silêncio, sem as habituais dicas do que havia a ser aperfeiçoado.
Ao entrar na placa, o inst. Monteiro disse-me pelos auscultadores:
“Sabe, sr. Tito, estou farto de o aturar!” seguiu-se novo silêncio para depois, quando me preparava para estacionar o avião, voltar a ouvir a sua voz:
“Pare aqui, retire o gás e deixe-me sair do avião” – Fez novo reporte à torre, de seguida comunicou-me que queria mais três toque-e-anda, abriu a canopy e antes de se desligar resmungou:
“Vá-se matar sozinho! Não se esqueça de manter o trem em baixo” (uma praxe porque os chip tinham o trem fixo)
Assim fiz. Quando rolei para a pista vi o instrutor já do outro lado da ponte a fazer o sinal de OK com o polegar.
Três aterragens depois, já com o 1354 estacionado e calçado dirigi-me à ponte onde o Monteiro me aguardava de sorriso rasgado e vi perfilar alguns instrutores a aquecerem as mãos. (a eles tinha-se juntado o meu irmão Zé – regressado da guerra em Moçambique (Alouette III) a finalizar o tempo de serviço na FAP como piloto do Beechcraft da Base.
Todos quiserem molhar a sopa. Seguiram-se os “cachaços” e o “pontapé-no-cu” da praxe.
Este relato foi feito na primeira pessoa do singular porque cada instrutor tinha a forma própria de largar os seus alunos. Não há-de ser muito diferente do que se passou naquele próprio dia e nos dias anteriores e posteriores com todos os outros alunos e cadetes.
Até ao fim dessa semana seguiram-se três vôos. Um para voltas de pista com o instrutor, outro para voltas de pista sozinho e, no dia 21, o voo de despedida do Chipmunk em zona de trabalho com o instrutor a bordo.
Na semana seguinte o comando de esquadra reuniu os largados na sala de aulas, comunicou que não haveria curso de T37 e que tinham sido escolhidos os 21 que seguiriam para São Jacinto (BA7) - avião T6 - e que os restantes 33 iriam para Tancos (BA3), fazer o helicóptero Alouette III. A notícia da escolha criou algum burburinho e, então, os comandantes Oliveira e Portijo (já reinava o espírito democrático?) decidiram meter num saco 21 papéis que diziam Aveiro e 33 que diziam Tancos. Cada um sacou o seu papel e ficou decidido. (tenho ideia que posteriormente ainda foram permitidas algumas trocas).
Termino aqui o relato porque daí em diante as coisas passaram a ser diversas. Cada um terá as suas histórias para contar e não foram poucas as que se sucederem ao longo do restante curso, incluindo as que se passaram nos históricos dias 28 de Setembro de 1974, 11 de Março de 1975 e 25 de Novembro desse mesmo ano.
Os que seguiram para São Jacinto formaram o curso P1/74 – Fixes. Os que foram para Tancos formaram o curso PH1/74 – Dragões. Mais tarde foram seleccionados 3 dos Fixes e 4 dos Dragões para integrarem o curso P2/74 de T37 – Os Panchos, que entretanto se estava a formar. Um Pendura dos Dragões seguiu para a Academia.
Durante o curso morreu aos comandos de um T6, no dia 4.10.74 pelas 17:00 horas, o nosso camarada António Marques (Viseu).
Foram brevetados em T6, sete Penduras, um dos quais no curso seguinte (P2/74). Foram brevetados em Alouette III, vinte Penduras, a que se juntou um camarada do curso anterior (P3/73). Foram brevetados em T37, sete Penduras, um deles pela Academia.
Este site/blog, sucessor do Website dos Penduras que por questões técnicas teve de ser desactivado, é património de todos aqueles que foram incorporados no curso P1/74, a que se acrescentam os instrutores de voo em Chipmunk e o da recruta.
Resulta do que ficou acordado no primeiro jantar alargado do curso, realizado na Mealhada em 27.07.2001, que serviu de base para o trabalho hercúleo seguido pelo Mário Frazão de recolher e tratar a informação para levantamento de todos os contactos que iriam tornar possível o encontro dos Trinta Anos da incorporação realizado no dia 31.01.2004 na BA1, Granja do Marquês – Sintra e, mais tarde em 10.05.2014, no mesmo local para Comemoração dos 40 anos.
A sua actualização e melhoria dependem única e exclusivamente de todos os que nele têm página própria e das famílias daqueles que entretanto faleceram.
(último desta série)
Luís Novaes Tito
#Penduras
[0.014/2017]
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